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Casa Colonial

Araguari, realmente, não é uma cidade histórica. Mas, nossos exemplares de patrimônio cultural são de causar inveja em muita gente...

Temos o nosso ícone principal, o Palácio dos Ferroviários - um dos mais belos prédios históricos do Triângulo Mineiro que acabara de vencer o concurso o “Melhor de Minas”, promovido pela Rede Integração.

Outro exemplar que merece a nossa admiração e valorização é a Casa Colonial da Pç do Rosário. Esta casa remonta do final do século XIX. Uma casa que foi do espólio de Etelvino Rodrigues de Souza e hoje pertence a família de Sinésio Peixoto de Mello, que realiza uma obra de revitalização e restauração mantendo viva a memória e as características de um tempo, impressas em cada um de seus ambientes.

De acordo com declarações dos proprietários, o principal motivo que os levaram a preservação da casa, foi pelo resgate das lembranças de infância do Sr. Sinésio, pelos laços de amizade e parentesco entre as famílias dele e do Sr. Etelvino.

Este resgate de um tempo em que tudo ocorria em outro ritmo é o resgate do relacionamento humano, do afeto e da religiosidade vivenciada, ou seja, é o resgate de nossa cultura. O valor imaterial desta casa é imensurável, pois estão agregadas a ele as tradições, as vivências, as lembranças, os sentimentos e, sobretudo, os sonhos.

Este é o resultado de que preservar a nossa cultura é estar investindo no desenvolvimento de nossa cidade e compartilhando os mais belos sonhos que não fazem mais parte de um único indivíduo, mas sim de toda a sociedade e, por este motivo, a Casa Colonial se transforma, também, em Patrimônio Cultural de Araguari.

O nosso reconhecimento a família do Sr. Sinésio Peixoto de Mello pela iniciativa de preservar este exemplar da arquitetura barroca e colonial de Minas Gerais e, sobretudo, um exemplar da cultura de Araguari.

Assista, também ao vídeo sobre a Casa.

(De)Formação Cultural

Certo dia, encontrei um amigo... E, conversa vem, conversa vai, ele me disse que havia tirado umas férias e viajado a Europa. Perguntei-lhe quais os países ele visitou e o que mais o encantou. Ele me respondeu que havia feito um “tour” por Roma, Paris, Londres, Madri e Lisboa e o que mais lhe encantou foi à arquitetura dessas cidades. Em Roma ele ficou impressionado com o Coliseu. Paris com o Museu do Louvre, Londres com o Palácio de Buckingham, Madri com a Plaza Mayor e em Lisboa com a Torre de Belém.

A primeira impressão, me pareceu que esse meu amigo tinha um enorme interesse por Patrimônio Cultural ou estava querendo fazer uma média comigo por eu ser arquiteto tendo em vista que seu “tour” foi para conhecer as grandes obras que marcaram importantes períodos da história de cada um desses países e que se perpetuam no tempo como grandes marcos da cultura destes povos.

Continuando nossa “prosa” o indaguei sobre o porquê dele ter escolhido essas cidades e esses monumentos para o seu “tour”, quando fiquei perplexo da resposta que me deu. Sem rodeios ele me disse que fez o “tour” para “adquirir cultura” e que muitos dos seus amigos fazem essa viagem porque é chique.

Pela correria do dia-a-dia, tivemos que encurtar nossa “prosa”. Dispedimo-nos e seguimos nosso caminho.

Outro dia, volto a encontrar esse meu amigo em frente ao Palácio dos Ferroviários. Conversa vai, conversa vem... ele me disse que estava chegando de Ouro Preto e queria comprar um imóvel de estilo colonial em um ponto valorizado de nossa cidade para montar um restaurante e me perguntou o que eu pensava sobre isso. Dei a ele minha resposta, imaginando que o interesse dele seria utilizar esse imóvel de forma sustentável, ou seja, instalaria no imóvel seu restaurante, preservando e valorizando as características culturais dele e usaria isso como marketing para seu empreendimento. Quando de repente ele me interrompeu dizendo-me que não. Que a intenção dele é demolir aquela “casa velha” e construir um quiosque para servir lanches, mas por ser chique ele o chamaria de restaurante.

Na verdade fui surpreendido mais uma vez por esse meu amigo. Ele que vai a Europa e a Ouro Preto “adquirir cultura” visitando prédios de excepcional valor cultural para a sociedade daquelas cidades e, também, para a humanidade, quer destruir um prédio de excepcional valor cultural para a nossa sociedade em nome daquilo que é chique.

Perplexidade a parte, pode-se observar que o conceito de cultura das pessoas está totalmente deturpado. Na cidade dos outros ou nos países dos outros o Patrimônio é importante para “adquirir cultura” ou para o desenvolvimento econômico por meio do turismo cultural. Como uma propriedade privada, o imóvel de valor cultural não passa de uma “casa velha” e tem que ser demolido. Mas que cultura esse meu amigo foi adquirir na Europa ou em Ouro Preto se ele não conhece e muito menos reconhece a sua própria cultura?

Coliseu de Paris, Museu do Louvre, Palácio de Buckingham, Plaza Mayor e Torre de Belém estão para suas comunidades assim como está o Palácio dos Ferroviários para os araguarinos, Ouro Preto para os mineiros e Brasilia para os brasileiros, em termos de Patrimônio Cultural, sendo cada um destes exemplares, o marco de um tempo e a identidade viva da cultura desses povos.

O que diferencia sociedades desenvolvidas de sociedades subdesenvolvidas é a maneira com que as pessoas produzem, respeitam, preservam e utilizam sua cultura.

Respeitar, reconhecer, valorizar e preservar o nosso Patrimônio Cultural Material e Imaterial não é só chique como, também, é necessário para que as futuras gerações possam identificar no passado, a sua origem, seu modo de vida, suas tradições, seu comportamento, sua forma de agir e pensar para se projetar um futuro cada vez melhor e com qualidade de vida.

Como já disse Fernanda Montenegro um dia: "Nossa deformação cultural nos faz pensar que cabe a um segmento da sociedade levar cultura a outro. Nós temos é que buscar a cultura no povo, dando condições para que ela brote”.

Artigo publicado em 25/11/2008 na edição do Jornal Gazeta do Triângulo - Ano 72 - n° 7665 - p.02. Opinião.

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