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Futura sede da Câmara Municipal de Araguari

A imprensa anda divulgando o interesse em se construir o prédio da futura sede da Câmara Municipal de Araguari em terreno localizado nos fundos da sede da SAE. Sugiro que, antes da decisão da construção de qualquer prédio em áreas destinadas a poços artesianos, os responsáveis possam refletir sobre os seguintes tópicos:

1 - As áreas onde estão instaladas baterias de poços artesianos ou poços artesianos solteiros, não podem ser consideradas como áreas ociosas, mas sim áreas de recarga dos aqüíferos subterrâneos;

2 - Sendo áreas de recarga dos aqüíferos subterrâneos devem ser protegidas e mantidas permeáveis, ou seja, com o mínimo possível de construções ou pavimentações;

3 - A impermeabilização do solo se dá pelo asfaltamento das ruas, construções de casas, ausência de jardim e parques, com isso a capacidade de infiltração ou percolação da água fica comprometida diminuindo, significamente, os níveis de recarga dos aquíferos, conseqüentemente, a falta de água para o abastecimento público;

4 - A construção da sede da Câmara Municipal demandará uma espaço muito grande, tanto para o prédio como para estacionamento, portanto, essas áreas destinadas aos poços artesianos que fazem a captação de água para o abastecimento público não são as mais adequadas para a construção de prédios;

5 - A cidade de Araguari/MG utiliza cem por cento (100%) de sua água potável para o abastecimento público, captada nos lençóis subterrâneos do aqüífero Bauru por meio de 109 poços semi-artesianos e distribuída por meio de 36.698 economias ativas, sendo que 28.885 são residenciais (DSAE, 2007). Por esse motivo se faz necessário um estudo para identificar possíveis causas de contaminação do aqüífero e propor medidas que vão minimizar este impacto e não gerar mais impactos nestas áreas de captação.

6 - O Aqüífero Bauru é definido como um aqüífero não confinado (livre), de porosidade intergranular, constituído pela seqüência areno-siltosa da Formação Marília, e pelas coberturas laterizadas terciárias silto-argilosas;

7 - Por ser um aqüífero não confinado e por sua natureza pouco profunda isso contribui para sua contaminação devido a ações antrópicas e falta de proteção sanitária na construção dos poços e no seu entorno;

8 - Como medida de proteção dos aqüíferos contra a contaminação se faz mister o uso de ferramentas de planejamento urbano para restringir e regulamentar, de forma permanente, o uso do solo, a emissão e efluentes e a deposição de resíduos. É importante definir manejos do solo com fins exclusivos a proteção de águas subterrâneas, além de um zoneamento que tenha um papel fundamental na definição de prioridades para o monitoramento da qualidade dos recursos hídricos subterrâneos;

9 - A contaminação do solo tem-se tornado uma das preocupações ambientais, uma vez que, geralmente, a contaminação interfere no ambiente global da área afetada (solo, águas superficiais e subterrâneas, ar, fauna e vegetação), podendo mesmo estar na origem de problemas de saúde pública;

10 - Para a proteção das águas subterrâneas é preciso ter a conscientização da sua importância e manutenção das suas características naturais.

Portanto, é necessário reavaliar os modelos praticados atualmente e buscar novos instrumentos de gestão ambiental urbana como ferramenta para a sustentabilidade com base no desenvolvimento e na qualidade de sistemas integrados aos diferentes setores da administração, bem como, com a participação da sociedade, em defesa do meio ambiente.

A NOSSA ÁGUA DE CADA DIA

Araguari, no estado de Minas Gerais, é uma cidade cujo abastecimento é feito por meio da captação, através de poços artesianos e semi-artesianos, de água subterrânea, mais precisamente do reservatório pertencente ao Aqüífero Bauru do Sistema Aqüífero Guarani.

A cidade está localizada no limite da porção nordeste do Aqüífero Guarani entre os Rios Araguari e Paranaíba e por suas características geológicas apresenta um nível de infiltração maior do que de escoamento superficial, por estes motivos a cidade foi escolhida para ser tema de estudos sobre a proteção e avaliação dos recursos hídricos do sistema Aqüífero Guarani (SAG) entre 2003 e 2006.

Estes estudos foram feitos, exatamente, pelo desconhecimento do potencial hídrico do aqüífero e a geração de insegurança dos agentes públicos, responsáveis pela gestão das águas no município, quanto a sua explotação e sustentabilidade.

O projeto, realizado em parceria com a UFMG, UFMS, IGAN CDTN, previa estudos para implantação conjunta de ações de proteção e gestão sustentável do aqüífero. Este projeto foi financiado por organismos internacionais. De acordo com estes estudos, no município de Araguari encontram-se os aqüíferos Serra Geral e Bauru da formação Botucatu e Marília, tendo em vista as suas formações geológicas que apresentam sobre basaltos sobrepostos por arenitos.

A explotação das águas subterrâneas no Município de Araguari é um fato preocupante. O gerenciamento da qualidade e quantidade de água do aqüífero ainda é deficitário. A água usada no abastecimento público é totalmente extraída de aqüíferos subterrâneos e distribuída a toda rede urbana da sede do município e distritos. Os poços de captação estão distribuídos em vários setores da cidade e muitos deles, principalmente os primeiros datados de 1947, construídos sem controle técnico.

Por muitos anos em Araguari, em cada casa havia uma cisterna, perfurada próxima, muitas vezes, de fossas secas, chamadas de “casinhas”, que mais tarde foram substituídas por banheiros, ou de pocilgas, galinheiros, etc. Ainda, não é difícil de encontrar nas periferias casos como estes, e por algum motivo não são coibidos pela administração pública. Isso contribuiu por muito tempo para a contaminação das águas subterrâneas na área urbana do Município.

O esgotamento residencial, comercial e industrial é canalizado até fossas sépticas e lançados na rede de captação pública onde é despejado no Córrego Brejo Alegre, sem nenhum tipo de tratamento. Portanto, Araguari ainda, mesmo dependendo de cem por cento das águas subterrâneas para seu abastecimento público, possui ações tímidas de controle e proteção do aqüífero Guarani em seu território.

A situação-problema detectada no município de Araguari/MG é que todo esgotamento sanitário e pluvial da cidade é lançado num córrego que corta sua área central. O esgoto doméstico e industrial é captado através de fossas sépticas interligadas a rede pública, porém, muitas residências ainda fazem ligações diretas e irregulares na rede de água pluvial. No trecho coberto, na Av. Cel. Teodolino P. de Araujo, o esgoto é separado da água pluvial, escoados em tubulações independentes até a Av. Minas Gerais. Deste ponto a diante corre a céu aberto, tanto esgoto como água pluvial. O córrego Brejo Alegre deságua no Ribeirão Jordão, distante uns 10 km da cidade. Este córrego apresenta sinais de assoreamento e várias voçorocas causadas pelas águas pluviais que são esgotadas por gravidade dos bairros do entorno.

Como o Córrego Brejo Alegre é todo poluído com os dejetos sanitários de toda a cidade e ele faz parte da bacia de recarga do aqüífero subterrâneo e o esgoto não recebe tratamento, bem como, área de afloramento da Formação Marília do Grupo Bauru (figura 1) está sendo aterrada com entulhos da construção e demolição, na Central de Entulhos do bairro Sibipiruna, e não há uma política de planejamento urbano e ambiental na cidade, não há um sistema de informações georreferenciadas e não há uma visão sistêmica dos princípios de sustentabilidade para reabilitação ambiental, conclui-se que o Aqüífero Guarani corre certo risco de contaminação devido a ações antrópicas que, culturalmente, se baseiam em comportamentos por um desenvolvimento a qualquer custo.

Enquanto não se configurar uma revolução intima em cada um que usufrui deste manancial pela conscientização de seu uso racional e sustentável, uma reação em cadeia pode ser provocada e, aqueles 0,66% de água doce subterrânea existente no mundo, poderão não mais existir num futuro próximo, onde, as futuras gerações pagarão o ônus pela incompetência da geração atual.


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