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Trânsito Humano

Muito se tem falado sobre trânsito em Araguari nos últimos meses. Cada um tem uma solução diferente para resolver este que se tornou um problema em virtude do tão almejado crescimento da cidade, defendido e debatido a exaustão. As soluções apresentadas de afogadilho são sempre aquelas que privilegiam seus autores e não levam em consideração inúmeros fatores.

Araguari, em maio de 2009, segundo dados do DENATRAN possuía uma frota de 45.652 veículos, destes, 48,9% é de automóveis (carros), 25,78% de motocicletas e 25,32% de outros veículos somados (caminhões, ônibus, motonetas, caminhonetes, etc.). Se verificarmos os dados no mesmo período em 2004, ou seja, 5 anos atrás, a frota em Araguari era de 31.230 veículos, sofreu um AUMENTO de 46,18%.

Pela estimativa do IBGE, em 2009 Araguari possui 111.095 habitantes e em 2004 possuía 106.311 habitantes, uma variação de 0,045%, ou seja, a população de Araguari se manteve quase estável, porém o número de automóveis subiu assustadoramente. Em 2004 o número de habitante por veículo era de 3,04 e em 2009 é de 2,43, ou seja, um número maior de pessoas teve acesso à compra de um veículo. Isso por um lado é positivo, pois demonstra a capacidade de crédito e compra das pessoas, houve um aumento do poder aquisitivo. Por outro lado, a estrutura urbana não acompanhou esse crescimento.

Muito em breve, se o aumento continuar nestes índices, a estatística será inversa, ou seja, teremos tantos veículos por habitante e se assim acontecer, o caos tomará conta da cidade.

Mas por que as pessoas sentiram a necessidade de comprar um veículo?

Se a análise for feita sobre a expansão urbana, não justifica esse aumento no número de veículos, pois, a estrutura urbana permanece a mesma, ou seja, não houve uma expansão urbana horizontal elevada, com a criação de novos bairros, nos últimos cinco anos.

Se a análise for feita sob a ótica do distanciamento da população em relação as suas atividades cotidianas, ou seja, a necessidade de deslocamento devido a mudanças físicas geográficas da habitação em relação ao trabalho, a escola, ao lazer, até justifica a compra de um veículo. Mas, será que as pessoas se distanciaram tanto assim ao ponto de justificar o aumento da frota?

Se analisarmos por outros lados, podemos até encontrar explicações que justifiquem esses números, mas para isso temos que responder alguns questionamentos:

1 – Uso do automóvel foi incentivado?

2 – O transporte público coletivo é eficiente?

3 – Há planejamento de controle e ordenamento do uso e ocupação do solo?

4 – A população está sendo expulsa para uma periferia distante das suas atividades?

5 – A compra do veículo foi por necessidade ou por vaidade?

Além destas, inúmeras perguntas podem ser feitas para o diagnóstico deste aumento de veículos.

O fato é que esta situação é permanente. Neste exato momento os números aqui apresentados já se tornaram obsoletos, pois a cidade é dinâmica, assim como tudo que a envolve.

Com o aumento do tráfego, em conseqüência do aumento do número de veículos, a cidade eleva seus índices de crescimento, como por exemplo, aumenta os custos com o combustível, o tempo de deslocamento aumenta e a cidade se torna mais lenta, a estrutura urbana necessita de expansão, aumenta a necessidade de vagas de estacionamento, aumenta os índices de poluição, as redes de equipamentos urbanos (água, esgoto, iluminação, etc.) se tornam mais caras, o que será pago pela população - a grande prejudicada nisso tudo.

É esse crescimento que você almeja para sua cidade?

Araguari irá receber brevemente quase 2.000 novas habitações pelo programa Minha Casa, Minha Vida. As pessoas beneficiadas serão aquelas que ganham entre 1 e 3 salários mínimos. O local onde estas pessoas irão morar irá beneficiá-las em relação aos seus deslocamentos diários? O direito de ter a sua casa própria é legitimo, porém formou-se no país a cultura de que o menos abastado terá que ir para a periferia, distante de tudo e o mais abastado, próximo de tudo. Essa maneira de pensar faz uma separação clara entre aqueles que possuem veículos individuais (mais abastados) e aqueles que dependem do veículo (menos abastados).

Esse paradigma é o maior causador da ineficiência do trânsito, pois ao mesmo tempo em que se expulsa as pessoas para a periferia, não lhes oferecem condições dignas de deslocamento, ou seja, de mobilidade urbana, oferecendo-lhes um transporte urbano coletivo com qualidade. Sendo assim, as pessoas se vêem obrigadas a dispor de um crédito facilitado para comprar seu transporte individual, inchando as cidades.

Como pode observar, a cidade é uma rede interligada e cada nó é um ponto que estabelece as inter-relações entre todas as suas atividades, ou seja, o trânsito está ligado com a estrutura urbana, que está ligada com o uso e ocupação do solo, que está ligado com o planejamento, que está ligado com as políticas públicas que estão ligadas as necessidades da população.

Neste sentido, tendo como foco o trânsito, a falta de planejamento estimula a ampliação do uso do transporte individual e deixa o desenho urbano a mercê das forças de mercado que aproveitam desta deficiência urbana para impor os seus interesses, exatamente pelo fato de não haver políticas públicas voltadas para um trânsito mais humano, com prioridade para o pedestre, a bicicleta e para o transporte urbano coletivo, algo muito utilizado em cidades desenvolvidas.

Portanto, toda solução leiga é um mero paliativo nesse sistema complexo que é o trânsito, o tráfego e o transporte. O comodismo e os privilégios individuais têm que acabar. Uma cidade é formada por um grupo de pessoas e é para esse grupo como um todo que as soluções têm que ser pensadas, planejadas e colocadas em prática.

Faça sua parte, você também é responsável.

Tenha educação no trânsito.

Preserve a vida!

Crescimento x Desenvolvimento

Sempre que se "comparam" as cidades o ponto principal é analisar "como elas cresceram".

O crescimento é baseado em números, ou seja, número de habitantes, número de indústrias, número de universidades, número de hospitais, número de vereadores na Câmara Municipal, enfim, no Brasil um número é o diferencial.

No meu entendimento, o crescimento é uma conseqüência do desenvolvimento. Para se alcançar o desenvolvimento é necessário dotar a cidade de condições para que o ser humano possa viver com qualidade de vida. Como qualidade de vida é subjetivo, ou seja, o mínimo para uma pessoa viver pode ser o máximo para a outra, depende apenas daquilo que a satisfaça num determinado momento.

Desenvolvimento é medido observando indicadores econômicos, sociais, culturais, ambientais, de sustentabilidade e o quanto isso é revertido em prol do ser humano para que ele possa ter uma vida digna.

Crescimento está diretamente ligado a quantidade, por outro lado Desenvolvimento está diretamente ligado a qualidade.

O Brasil, Minas Gerais e o Triângulo Mineiro ainda estão longe de oferecer desenvolvimento a sua população, pois ainda é mais forte o sentimento de crescimento a qualquer custo, um exemplo é o PAC - Plano de Aceleração do Crescimento. Nunca irão criar o PAD - Plano de Aceleração do Desenvolvimento, pois o ser humano acostumou a receber o cartão magnético intitulado "Bolsa Família" e ter o mínimo para sobreviver e não busca o máximo para viver dignamente.

O planejamento é uma das principais ferramentas para delinear o desenvolvimento de uma cidade. O Planejamento Físico-Territorial, uma atribuição de ARQUITETOS E URBANISTAS, é formado por um conjunto de atividades que engloba:

  1. Planos de Intervenção no Espaço Urbano fundamentados nos Sistemas de Infra-estrutura, Saneamento Básico, Sistema Viário, Tráfego e Trânsito Urbano e Rural;
  2. Planos de Intervenção no Espaço Metropolitano fundamentados nos Sistemas de Infra-estrutura, Saneamento Básico, Sistema Viário, tráfego e Trânsito Urbano e Rural;
  3. Planos de Intervenção no Espaço Regional fundamentados nos Sistemas de Infra-estrutura, Saneamento Básico, Sistema Viário, Tráfego e Trânsito Urbano e Rural;
  4. Sinalização;
  5. Acessibilidade;
  6. Inventário Urbano e Regional;
  7. Parcelamento do Solo: Loteamento, Desmembramento, Remembramento e Arruamento;
  8. Gestão Territorial;
  9. Planejamento Urbano;
  10. Plano Diretor;
  11. Traçado de Cidades;
  12. Cadastro Técnico;
  13. Assentamentos Humanos;
  14. Requalificação de Áreas Urbanas;
  15. Requalificação de Áreas Regionais;
  16. Avaliação Pós-Ocupação; e
  17. Desenho Urbano.

Os valores estão invertidos. E isso pode causar situações irreversíveis no futuro. A responsabilidade do administrador público é grande quando se omite ou quando coloca pessoas sem preparo para exercer funções incompatíveis com sua formação.

Infelizmente cidades do porte de Araguari, mesmo tendo uma secretaria municipal de planejamento com funcionários com atribuições ou competência para exercer as atividades listadas acima, conforme rege a Resolução 1010/2005 do CONFEA, , realizam essas atividades com pessoas sem o mínimo preparo técnico, inclusive de outras secretarias, de forma aleatória e baseadas em achismos. Parafraseando Boris Casoy: "Isso é uma vergonha".

Nesse sentido, intervenções erradas podem gerar conflitos e ceifar vidas. Ai eu pergunto, quem será o responsável por isso? O prefeito? O Secretário? A cidade? Não, a SOCIEDADE, por aceitar promessas a troca de migalhas para beneficiar um ou outro, quando devemos olhar de um ângulo mais amplo, de forma que as intervenções na cidade atendam a coletividade.

Sendo assim, é mister a criação do Conselho da Cidade, um órgão deliberativo, propositivo e consultivo que irá articular políticas de desenvolvimento urbano, social, ambiental e rural, bem como, fiscalizar ações que tenham cunho apenas político-partidário.


Artigo publicado no Jornal Gazeta do Triângulo, em 06/03/09, ed. n° 7731. OPINIÃO. pg.2.

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